Apresentamos hoje a Revista Nº 8 “Caminhos†da Misericórdia de Arcos de Valdevez. A sua publicação teve de ser adiada de Maio para Outubro, fruto dos constrangimentos colocados pela pandemia. Contudo, a persistência da Drª. Lúcia Afonso e do Dr. Paulo Castro impediram que a publicação da revista fosse posta em causa, tal como ocorreu no ano transato com a publicação a acontecer em Setembro. É importante manter a cadência anual da Revista dando conta da atividade da Instituição, assim como publicar alguns artigos de opinião no âmbito da atividade desenvolvida como a investigação realizada sobre os mais de quatro séculos da Santa Casa de Arcos de Valdevez.
Os tempos que atravessamos são de enorme exigência para Instituições como as Misericórdias pela especificidade da sua missão. A prestação de cuidados em Estabelecimentos Residenciais para Idosos, Apoio Domiciliário, Unidades de Cuidados Continuados, Estabelecimentos Residenciais para Deficientes é um desafio permanente pela idade e patologias apresentadas pelos utentes dos diversos serviços. A pandemia aumentou as exigências, obrigando a introduzir ou aumentar serviços de saúde nos Estabelecimentos Residenciais para Idosos que não estavam previstos no conceito deste tipo de resposta. A reivindicação para a criação de Hospitais de Retaguarda para infetados que não necessitavam de internamento por não serem situações agudas, só tardiamente foi implementada obrigando os Estabelecimentos Residenciais para Idosos a adaptar-se, mantendo nas suas infraestruturas utentes doentes com Covid-19 e utentes que não estavam infetados. Foram tempos muito difÃceis os vividos no último trimestre de 2020 e nos primeiros meses de 2021. A resiliência dos funcionários, a coragem de enfrentarem o desconhecido e o envolvimento do corpo clinico e de enfermagem da Instituição, permitiram minimizar o impacto da pandemia nos serviços da Misericórdia. Foi determinante, no meio da incerteza, do receio e do medo, a serenidade, a determinação, a coragem dos que trabalham na Misericórdia visando a salvaguarda da qualidade do serviço prestado aos utentes. É importante que se realce a ação destes homens e mulheres nestes serviços, maioritariamente estas, que colocaram no topo das suas preocupações a responsabilidade para com os utentes. Esta postura implicou turnos de 12 horas por perÃodos contÃnuos de 7 dias, exigindo de todos um enorme esforço e profundo desgaste. Constatamos hoje que não ocorreram na Instituição óbitos por Covid, fruto de muitas circunstâncias onde se inclui a diligência e profissionalismo dos funcionários no exercÃcio das suas funções.
Ao constatarmos que os tempos que atravessamos são difÃceis, apercebemo-nos que os que se avizinham comportam grande incerteza. Ultrapassada a fase aguda da pandemia e o sucesso alcançado com o processo de vacinação, as debilidades detetadas no apoio aos mais idosos deixaram de ser preocupação e merecedoras da atenção mediática. A qualificação do apoio domiciliário com a integração da prestação de serviços de saúde aos idosos na sua residência, torna-se imperiosa, não cingindo esses serviços apenas à higiene pessoal, alimentação e tratamento de roupa e limpeza da habitação. A criação de Unidades especÃficas para cuidar de utentes com demência, evitando-se que estejam em Estabelecimentos Residenciais para Idosos que não possuem condições infraestruturais e recursos humanas para lhes darem os cuidados devidos, torna-se uma necessidade urgente. Os Estabelecimentos Residenciais para Idosos necessitam de uma nova abordagem ao nÃvel dos profissionais que aà prestam serviço com a introdução de novas áreas profissionais e alargamento de horários de outras, nomeadamente médica e de enfermagem. O conceito do próprio Estabelecimento merecerá uma revisão por forma a evitar que a sua procura seja apenas efetuada quando surgem as dependências. A aposta em residências autónomas onde o idoso, ou o casal de idosos, usufrui dos serviços que necessita mas simultaneamente preserva a sua privacidade e liberdade, podendo sair para conviver e usufruir de equipamentos e espaços públicos são desafios que temos que assumir quanto ao futuro.
Novos tempos, novos desafios, novas respostas é a reflexão que estamos a desenvolver com a elaboração o Plano de Desenvolvimento e Intervenção Estratégica 20/30. Esperamos que o documento possibilite consensualizar ideias sobre o que pretendemos para a Misericórdia nesta década e onde queremos estar em 2030. A intervenção da Instituição enfrentará muitas dificuldades mas estamos certos que a Irmandade saberá a cada momento tomar as melhores opções salvaguardando a ação desenvolvida junto da comunidade. A atualização das comparticipações nos acordos de cooperação, assim como o apoio à requalificação ou construção de novas infraestruturas tem de merecer a nossa constante atenção por forma a estancar a detioração dos serviços e equipamentos na área social. A inexistência de um Programa Comunitário focado na área social, nomeadamente no apoio à requalificação e construção de equipamentos sociais, deixa-nos preocupados e expectantes quanto á atenção que vai ser dada a esta necessidade, sabendo-se da insuficiência dos recursos disponibilizados pelo Programa Nacional PARES (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais) para fazer face às muitas solicitações.
Os 425Anos da Misericórdia de Arcos de Valdevez ficam assinalados pela pandemia, muitas das iniciativas programadas acabaram por não se poderem realizar. Visando celebrar a efeméride, dentro dos condicionalismos existentes, terá lugar até ao final do ano uma sessão comemorativa onde será apresentado o I Volume sobre a História da Misericórdia de Arcos de Valdevez, da autoria da Mestre em História Lúcia Afonso, e apresentação da Medalha Comemorativa dos 425Anos do Pintor e Escultor António Aguiar -Taroza-. Queremos com estas iniciativas assinalar a data e a importância da ação da Instituição junto da comunidade arcuense ao longo destes mais de quatro séculos, a qual continua necessária e atual.
A Revista “Caminhos†dá-nos conta do percurso que anualmente efetuamos no sentido de robustecermos a Instituição como uma referência na intervenção social que se desenvolve no nosso concelho. Queremos uma Misericórdia com serviços de qualidade, servindo a população, dando especial atenção aos mais desfavorecidos. Nesta ação contamos com a companhia de todos, na ambição de construir uma sociedade mais justa e solidária.
Tenho dito
Consistório da Misericórdia, 8 de Outubro de 2021
O Provedor
Comendador Francisco Rodrigues de Araújo(Dr.)